O 1º de Maio é o Dia do Trabalhador

Publicado em: 03/05/2011
O 1º de Maio é o Dia do Trabalhador

Muitos de nós já ouvimos e alguns já fizemos uma perguntinha ridícula: “Se é dia do trabalho, por que é feriado e ninguém trabalha?” Simples: porque não é dia do trabalho, mas dia do Trabalhador. Pode parecer, a princípio, que não faz muita diferença, mas é um engano. Celebrar o trabalho é entender que aquele que tem como ganhar seu sustento é um abençoado, numa sociedade em que a mão de obra é vista como descartável. Celebrar o trabalhador coloca no centro da comemoração aquele que constrói o mundo, a riqueza, o progresso das nações e da humanidade. E isso faz, sim, muita diferença. .....Não é à toa que o feriado mudou de nome na chamada Era Vargas. O salário mínimo (1940), a Justiça do Trabalho (1941) e a CLT (1943) foram lançados em 1º de maio, como “benesses” concedidas aos trabalhadores urbanos pelo “pai dos pobres”. O político gaúcho, até então, o mais popular da nossa História, entendeu que era preciso adoçar a boca dos operários, que já vinham se organizando politicamente desde o final do século anterior. Greves operárias, como a de 1917, mostraram às classes dominantes que os trabalhadores não aceitariam mais as condições impostas pelos patrões: jornadas intermináveis, salários de fome, trabalho infantil, a total falta de direitos trabalhistas como tratamento médico e seguro para acidentes de trabalho, entre outros absurdos. Com forte influência do anarco-sindicalismo, trazido pelos imigrantes europeus, e bafejados pelos ventos socialistas vindos da recém fundada União Soviética, estes movimentos ameaçavam mais do que as relações capital–trabalho, pondo em risco também a hegemonia dos poderosos de sempre.



.....Getúlio, sagaz e hábil, concedeu aos trabalhadores algumas de suas velhas reivindicações para acalmar os ânimos, enquanto, por outro lado, aproveitava para prender líderes sindicais, comunistas e anarquistas. Como golpe final, Vargas transformou o Dia do Trabalhador, comemorado com manifestações pelos ativistas políticos e dirigentes sindicais, em Dia do Trabalho, transformando-o numa data meramente festiva.



Um pouco de História




.....Com a revolução industrial, que ocorreu no início do século XIX, a situação dos trabalhadores se tornou cada vez pior. O que havia antes eram pequenas manufaturas, e a população se concentrava na área rural, onde desenvolvia atividades ligadas à agricultura e à pecuária. Mas, nas novas fábricas que surgiam, apesar das máquinas, havia intensa utilização de mão de obra, e as condições de trabalho eram as piores possíveis. As jornadas podiam chegar a 18 horas diárias. Gestantes, crianças e idosos – os poucos que sobreviviam para chegar à terceira idade – não tinham facilidades ou privilégios. A exaustão e o ambiente insalubre e inseguro levavam às mutilações, e os trabalhadores morriam como moscas. Os pobres trabalhavam de segunda a segunda, enquanto os ricos contavam – e gastavam – o dinheiro acumulado graças ao sofrimento dos trabalhadores.



.....A luta pela jornada máxima de 8 horas começou logo depois que os operários começaram a se organizar, por volta da metade do século XIX. Mais tarde, por volta da primeira década do século XX, as mulheres começaram a se mobilizar, também pela jornada de oito horas, lançando as bases do que é, hoje, o movimento feminista. O trabalhismo e o feminismo têm em comum, em suas origens a reivindicação por uma jornada diária que não custasse aos trabalhadores, de ambos os sexos, a saúde e até a vida.



.....O 1º de maio foi escolhido como Dia do Trabalhador para lembrar o início de uma greve geral que aconteceu em Chicago-EUA. Em 1886, depois de dois anos de preparação, foi realizada nesta data uma paralisação para lutar pela fixação da jornada de trabalho em 8 horas diárias. Com a greve marcada, a imprensa norte-americana começou cedo a campanha para desqualificar o movimento, já adiantando que a repressão seria violenta. No primeiro dia, um domingo – já que os operários não tinham folga semanal – a adesão foi pequena, mas na segunda-feira, segundo dia, o movimento cresceu. A polícia e os guardas de uma fábrica mataram sete operários que faziam piquete. No dia seguinte, 03 de maio, terça-feira, um comício foi feito em protesto contra os assassinatos. A cavalaria abriu fogo contra os manifestantes, fazendo tombarem mais de cem corpos, no evento que ficou conhecido como o Massacre da Praça do Mercado.



.....Neste episódio, sete líderes sindicais foram presos e julgados no mesmo ano. Deles, cinco foram condenados à morte. Quatro foram enforcados e um cometeu suicídio na véspera do dia em que seria executado. O tempo decorrido entre o julgamento e a execução foi considerado curto, segundo os padrões da Justiça norte-americana, para uma sentença de pena capital. Dois dos presos foram sentenciados à prisão perpétua e o último, a 15 anos de encarceramento. Seis anos depois, o processo foi anulado em razão de uma série de irregularidades, como suborno aos juízes e jurados e falsas testemunhas. Os líderes da greve foram inocentados e os sobreviventes foram soltos.



.....No mundo todo, a data de início da trágica greve de 1886 foi estabelecida como Dia do Trabalhador e poucos países não a adotam. Nos EUA, o dia do trabalho é em setembro, já que a “democracia” norte-americana não poderia dar legitimidade a um movimento liderado pelos socialistas e reprimido violentamente pelo Estado, que cometeu um atentado contra as liberdades humanas que tanto apregoava defender.



.....Ao longo das décadas seguintes, os trabalhadores foram conquistando, aos poucos e graças a muita luta, a tão sonhada jornada máxima de 8 horas diárias, além de direito a férias, descanso semanal, previdência social, entre outros. Portanto, neste 1º de maio, pense naqueles que tombaram na luta para que você pudesse ter um trabalho que, mesmo sendo o alicerce da vida do homem, não a consuma. E comemore, porque este dia, caro trabalhador, é seu.


Por Renata Silver