Governo quer reduzir inflação ‘apostando na fome do brasileiro’

O aumento na cesta básica em 2021, identificado pelo Dieese em todas as 17 capitais pesquisadas pela entidade, está diretamente relacionado ao modelo de agronegócio que o Brasil adotou e à falta de políticas públicas do governo de Jair Bolsonaro, que abandonou os estoques reguladores de alimentos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). É o que destaca a supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa.
Dados do instituto divulgados na última semana mostram que entre novembro e dezembro o valor da cesta subiu em oito cidades. O destaque foi para Salvador e Belo Horizonte. Dos 13 produtos verificados, nove tiveram alta acumulada de preços em quase todas as cidades. Entre eles, a carne bovina de primeira, o açúcar, o óleo de soja e o café em pó, alimentos que são exportados e relacionados às commodities privilegiadas no modelo de agronegócio brasileiro.
“Vai ficando cada vez mais difícil para o consumidor ter acesso a esses alimentos básicos. O real perde valor em relação ao dólar, o que estimula a exportação. Os produtores vão olhando para o mercado externo que tem demanda e olham para dentro e veem um mercado interno deprimido, sem renda, em que o trabalho é cada vez mais espremido, com menores rendimento e a opção é mandar os alimentos para fora, alimentos básicos que estão na mesa e na vida de todas as famílias brasileiras. E com isso aqueles que ganham menos acabam tendo que dispor de mais do seu salário, que é cada vez menor, para comprar esses alimentos”, observa Patrícia.
A supervisora alerta que políticas públicas como a dos estoques reguladores da Conab, que poderiam frear esse movimento, também não são uma prioridade do governo federal. Este é um país que não cresce, não gera empregos e nem renda suficiente para que sua população, principalmente a mais pobre, possa comer. Esse é o país em que a gente vive hoje”, finaliza Patrícia.