Frases de Bolsonaro são “sincericídios” sobre neoliberalismo no país

Publicado em: 08/01/2021
Frases de Bolsonaro são “sincericídios” sobre neoliberalismo no país

O Brasil começou a primeira semana do ano ouvindo as já controversas declarações do presidente sobre a situação econômica do país e a terceirização de suas responsabilidades. Para ele, nada de ruim que acontece com o Brasil é de sua responsabilidade, seja o fim do auxílio emergencial, o aumento do desemprego, a falta de vacinas contra a Covid-19 e o calote dado ao aporte previsto no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), instituição financeira criada pelos cinco países do grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Na última quarta-feira, 05/01, Bolsonaro soltou duas pérolas “Brasil está quebrado e eu não consigo fazer nada”, sobre o fim do auxílio emergencial e a impossibilidade de cumprir promessa de campanha de cobrar impostos para quem ganha a partir de R$ 5.000,00 ( hoje a alíquota do IR é paga a partir de R$ 1.900,00); e “ que o Brasil é um país difícil trabalhar.


Quando fala em desemprego, né, [são] vários motivos. Um é a formação do brasileiro. Uma parte considerável não está preparada para fazer quase nada. Nós importamos muito serviço".


Segundo o economista, Marcio Pochmann, essas declarações são consideradas “sincericídios” – uma mistura de sinceridade com suicídio, por que Bolsonaro tem de manter a cartilha neoliberal econômica que o elegeu. Politicamente Bolsonaro está “preso” ao centrão, bloco fisiológico de parlamentares da Câmara e Senado Federal, de centro-direita e extrema direita, que costuma aderir ao governo em troca de cargos, por ter saído do PSL , se unindo ao grupo para manter a maioria do Congresso fiel a ele.


Como não quer perder a popularidade com o auxílio emergencial, mas também não quer perder o apoio da maioria no Congresso, que reza pela cartilha neoliberal, defende o teto de gastos públicos e é avessa a políticas públicas, Bolsonaro joga com frases de efeito para dizer que a responsabilidade não é dele, quando, na verdade, faz tudo de maneira pensada, tentando manobrar a opinião pública. Pochmann diz que o Brasil não está quebrado e que Bolsonaro usou uma interpretação bancária, financeira, utilizada nos anos de 1980 que definia os países latino-americanos endividados e não conseguiam pagar suas dívidas no exterior. “Como ele não tem saída por causa do teto de gastos e ainda assim aumentou o déficit público, Bolsonaro adota como resposta para a crise o mesmo discurso de alguns economistas, de que a saída é vender, privatizar, de que está quebrado”, afirma Pochmann.