Cai o mito do real desvalorizado

Publicado em: 18/11/2009
Cai o mito do real desvalorizado

Quando o mercado fechou ontem, primeiro dia após o anúncio da demissão de Mário Torós do cargo de Diretor de Política Monetária do Banco Central, os juros futuros tinham caído. De ontem para hoje, o DI (Depósito Interbancário) de janeiro de 2011 caiu de 10,27% ao ano para 10,20% ao ano. O DI de julho de 2010, de 9,14% para 9,10% ao ano.



Qual a lógica? De acordo com a retórica terrorista do mercado, se sai um diretor ortodoxo e há sinais de afrouxamento da política monetária, os juros podem cair no curto prazo, mas deveriam subir no longo – porque, pela leitura do mercado, o afrouxamento da política monetária produziria mais inflação obrigando, mais à frente, a outro movimento de alta nas taxas.



Nada disso ocorreu. Pelo contrário, o mercado sequer reagiu à declaração do Ministro da Fazenda Guido Mantega, de que a taxa ideal para o dólar é em R$ 2,60. Nesse nível, declarou Mantega, não tem China, Coréia ou Japão que segure o Brasil.



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O significado desse jogo é que começa a cair o último grande mito da economia brasileira, que é a taxa de câmbio baixa.



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Vamos entender um pouco melhor o modelo armado em torno do sistema de metas inflacionárias do Banco Central.



Por esse sistema, o BC procede a pesquisas permanentes sobre as expectativas da economia em relação à inflação. Desde que mudou a composição do Copom (Comitê de Política Monetária), na partida do Real, o universo pesquisado é exclusivamente das instituições financeiras.



O BC tem seu próprio Departamento de Pesquisas, que permite a montagem de cenários. E tem um segundo departamento, especificamente para trabalhar em cima das metas inflacionárias.



É nessa segunda área que se dá o jogo de expectativas viciadas com o mercado. Cada Departamento Econômico não procura acertar a inflação, mas acertar qual a inflação que o BC está esperando.



Torna-se, portanto, extremamente fácil manipular as expectativas para justificar taxas de juros elevadas. Recorre-se a argumentos de toda ordem – para uma boa lista, basta consultar os artigos do professor Afonso Celso Pastore, o campeão dos “juristas” (aqueles que defendem juros altos para curar qualquer doença, de lumbago à perda de rentabilidade do sistema).



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Suponha que a inflação estivesse sob absoluto controle. Levanta-se o mito do PIB potencial – consagrado por Pérsio Arida depois que abandonou o estudo da economia. Consistia em modelos matemáticos nunca explicitados, mas que permitiam ao economista garantir que, se a economia crescesse acima de determinado percentual, haveria inflação. Bastava um crescimento moderado, para o BC aumentar os juros.



Depois, o mito da capacidade instalada. Bastava haver certo nível de ocupação da capacidade instalada – passo necessário para deflagrar processos de investimento – para se abortar o crescimento com alta de juros.



Um a um foram caindo os mitos. Persistiu a idéia de que com real desvalorizado seria impossível segurar a inflação – mito, aliás, que já havia sido desmentido em duas ocasiões, nas desvalorizações de 1999 e 2003.



Agora é o próprio mercado que derruba o mito, reagindo com queda de juros à saída de Torós e à fala de Mantega.



Fed corta prazo de interbancário



A partir de 14 de janeiro, o Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano) vai reduzir o prazo de reembolso dos empréstimos interbancários - com a sua taxa de desconto - de 90 dias para 28 dias "em vista da contínua melhoria da conjuntura nos mercados financeiros". O plano de empréstimos com taxa de desconto é voltado aos bancos com dificuldades para se financiar por outros meios no mercado interbancário ou de dívida privada.



O novo ciclo de crescimento



Sob um novo ciclo de expansão, a economia brasileira tem potencial para crescer mais de 5% a partir de 2010. "Podemos ultrapassar 5%, mantendo sólidos fundamentos. De 2010 a 2017, o País pode ter um ciclo de crescimento de 6% a 6,5%, equilibrado e sólido", estimou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que apontou o mercado interno e os investimentos privados como motores do crescimento futuro.



A negociação do minério de ferro



A mineradora Vale pretende abrir negociações para o preço do minério de ferro no biênio 2010/11 até o fim deste mês. Para o diretor global de minério de ferro da Vale, Renato Neves, a mineradora seguirá operando com capacidade quase plena no ano que vem, devido à demanda aquecida. Em 2009, as negociações entre as principais mineradoras mundiais e as siderúrgicas chinesas - maiores consumidoras da commodity - ficaram em impasse.



O novo diretor do BC



A substituição de Mário Torós, ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC), por Aldo Luiz Mendes, do Banco do Brasil, foi baseada em critérios técnicos, disse o presidente do BC, Henrique Meirelles. Torós se demitiu na sexta-feira, após a publicação de uma entrevista sua no jornal Valor Econômico, onde detalhava as estratégias do BC para o combate à crise. Meirelles disse que não há previsão de mais nenhum diretor deixando a instituição.



Inflação alta no Reino Unido



A inflação acelerou no Reino Unido. De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas, o índice de preços ao consumidor subiu 1,5% sobre o ano passado, acima da expectativa de 1,4%, puxados pelo aumento dos combustíveis e passagens aéreas. Para um dirigente do Banco Central da Inglaterra, o risco de volatilidade no nível geral de preços pode levar a inflação para acima da meta de 2%. Contudo, ainda não se fala em alta dos juros para conter a escalada de preços.



Indústria defende medidas para o câmbio



A indústria quer que o governo adote medidas extraordinárias para evitar a valorização do real frente ao dólar. “A indústria brasileira não pode ser desmontada por conta de fatores conjunturais que reclamam uma atitude firme do governo”, disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto. A CNI também quer do governo a desoneração de investimentos e marcos regulatórios eficientes como forma de estimular a competitividade.


Fonte : Último Segundo