Bancos do Brasil são mais saudáveis que os dos EUA, dizem analistas

Publicado em: 02/02/2010
Bancos do Brasil são mais saudáveis que os dos EUA, dizem analistas





Regulação mais forte, menor liberdade para arriscar e uso restrito de operações financeiras complexas. Esse tripé ajudou o setor bancário brasileiro a sair praticamente ileso da crise mundial e o faz ser mais “saudável” na comparação com o norte-americano, segundo analistas. Isso não significa que o segmento esteja imune a ataques e que não possa melhorar.


Para especialistas, as medidas que vêm sendo propostas pelo governo dos Estados Unidos para reforçar a regulação do setor bancário são, em geral, positivas. Mas eles acreditam que o Brasil não precisa de reformas profundas, por estar um passo à frente em controle de risco.


Nos Estados Unidos a postura dos reguladores é mais flexível e, além disso, havia bancos com índice muito alto de alavancagem”, disse o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg. “No Brasil, nosso próprio histórico de crises gerou uma postura mais cautelosa.”


Banco Central e Basileia


Entre os ingredientes locais de maior rigidez, conta o presidente da consultoria Austin Asis, Erivelto Rodrigues, está o controle das instituições federais. “Nos Estados Unidos, os bancos de investimento, que assumem os maiores riscos, não são controlados pelo Banco Central (BC) local, o Federal Reserve (FED), mas sim pela Comissão de Valores Mobiliários do país, a Securities and Exchange Commission.” O FED regula apenas os bancos comerciais. No Brasil, é o BC que fiscaliza todos os tipos de instituições financeiras.


Outra questão que dá mais segurança ao sistema brasileiro é o nível máximo que uma instituição financeira pode emprestar em relação a seu patrimônio, o chamado Índice de Basileia. No Brasil o limite é 11%, o que significa que para cada R$ 11 de patrimônio, o banco pode conceder no máximo R$ 100 em crédito. Já nos Estados Unidos esse indicador é menor, de 8%, o que amplia a possibilidade de tomada de risco.


O Brasil tem ainda, segundo Rodrigues, um controle maior no monitoramento de fundos mantidos por bancos de investimento. “Aqui esses instrumentos são marcados a mercado, ou seja, seu valor precisa ser informado diariamente.” Nos Estados Unidos não há a necessidade diária.


Além disso, Sardenberg conta que a supervisão no mercado local é mais rigorosa. O executivo, que já foi diretor financeiro e de relações com investidores do Banco Nossa Caixa, conta que o BC mantinha equipes dentro da instituição financeira para monitorar os sistemas.


"Os sistemas regulatório e financeiro norte-americanos refletem a idéia de que quem faz melhor é sempre o mercado, o que permitiu a certas instituições crescerem como cresceram”, complementa Mônica Baumgarten de Bolle, sócia da Galanto Consultoria e especialista em crises financeiras.


Estatais ajudam


Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, outra vantagem do sistema brasileiro é a própria existência dos bancos estatais. “Pode parecer estranho dizer isso no mercado financeiro, mas o uso das instituições estatais ajudou o Brasil a interromper uma provável crise de crédito.”


Segundo ele, nenhum banco privado empresta dinheiro num cenário de aumento de desemprego, inadimplência e risco. “Mas Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, instigados pelo governo, não deixaram de conceder crédito, o que aliviou os sintomas da crise.


Aline Cury Zampieri e Olívia Alonso, iG São Paulo